A motivação costuma ser vista como algo que está dentro de nós, relacionado com a nossa vontade, o que muitas vezes causa a impressão errada de que uma pessoa é motivada ou desmotivada, como se não fosse possível aumentar a motivação das crianças.
Essa visão de que a motivação não pode ser alterada faz muitas pessoas acharem que não é possível fazer algo por uma criança autista sem motivação.
Considerando que o comportamento corresponde a tudo aquilo que fazemos, quando estamos motivados há aspectos do nosso comportamento que demonstram isso.
Dessa forma, é possível descrever mudanças no comportamento como uma função da interação entre o comportamento e as suas consequências. Ou seja, o que ocorre depois do comportamento.
Portanto, esse pensamento é importante para entendermos quais são as variáveis (o que acontece no ambiente) que influenciam as características de resposta de uma pessoa.
Como a ABA pode te ajudar a aumentar a motivação das crianças autistas
A aplicação dos princípios do comportamento é chamada de Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Por meio da ABA, podemos entender como aumentar a motivação das crianças.
Isso porque toda intervenção da ABA é baseada em reforço. Sendo que o reforço é o processo em que ocorre a mudança no ambiente, que se segue após certo comportamento.
Consequentemente, isso resulta na probabilidade de um comportamento específico ocorrer mais frequentemente no futuro, nas mesmas circunstâncias.
Reforçadores para crianças autistas
No caso das crianças autistas, é mais difícil descobrir o que é reforçador para elas. Pois, elas têm mais dificuldade para expressar os seus sentimentos e desejos.
Ainda que o reforço aumente a probabilidade do comportamento ocorrer, pode acontecer de uma certa consequência não ter um efeito reforçador ou não ser reforçadora para um certo comportamento, mas isso não significa que o reforço não funcione.
É importante ressaltar que, de acordo com a ABA, o que reforçamos é o comportamento da criança, e não a criança.
Tipos de reforçadores
Os reforços primários aumentam os comportamentos sem serem condicionados ou aprendidos. Ou seja, são aqueles que já apresentamos, que já nascemos com eles, por questões fisiológicas. Por exemplo, as comidas e bebidas, que são vitais para a nossa sobrevivência.
Já os reforços condicionados são aprendidos, secundários, possuem valor reforçador porque foram pareados com reforçadores primários ou outros reforçadores já existentes.
Estudos apontam que estímulos e eventos neutros podem ser condicionados e aprendidos se pareados com um reforçador já existente.
Os comportamentos da criança também podem ser reforçados pelo seu próprio comportamento. Isso acontece, por exemplo, quando uma criança vai até a cozinha e pega um alimento, por estar com fome.
Reforços negativos que não ajudam a aumentar a motivação das crianças
Há também os chamados reforços negativos, que ocorrem quando há a remoção ou o término de uma situação desagradável, que poderia estar provocando comportamentos disruptivos na criança.
Por exemplo, como quebrar algo, bater a cabeça na parede, jogar-se no chão, não responder corretamente às perguntas, dentre outros.
Além disso, não são somente as pessoas que podem reforçar um comportamento. Desse modo, o próprio comportamento da criança pode produzir mudanças no ambiente, são os chamados comportamentos auto estimulatórios, como os estímulos sensoriais. Eles são mais difíceis de serem extintos.
Como e quando entregar os reforçadores
Estudos apontam que quando o esquema de reforço é dado em um momento e outro não, isso tende a deixar as respostas da criança mais consistentes. Esse procedimento é conhecido como esquema de reforçamento.
É importante que o reforço seja imediato, isto é, seja fornecido logo após a resposta da criança. Pois quanto menor o tempo para fornecer o reforço, maior a chance dele ser efetivo.
Quanto ao tempo em que a criança poderá ficar com o reforço, recomenda-se que sejam alguns segundos. Dessa forma, ela não perde o interesse pelo que lhe foi fornecido.
Por isso, ao trabalhar com os reforçadores, é preciso levar em consideração dois fatores a que eles estão sujeitos, que são a saciedade e a privação.
Para exemplificar a saciedade, uma criança jogou videogame a manhã inteira, e no período da tarde ela é solicitada a fazer algo em troca de jogar videogame novamente, provavelmente esse reforço não será mais relevante para ela.
E no caso da privação, por exemplo, se a criança estiver impedida de jogar videogame por um tempo, por determinado motivo, e em troca dela realizar uma tarefa solicitada ela puder jogar videogame, provavelmente esse será um bom reforçador para ela.
Você pode aprender a aplicar os reforçadores certos!
Com este artigo, procuramos mostrar como o uso dos reforçadores é importante para aumentar a motivação das crianças autistas, bem como esclarecer que o nível de motivação pode, sim, ser alterado.
Fazendo o uso adequado dos reforçadores, com base nos princípios da ABA, temos mais chances de aumentar a motivação das crianças com atraso no desenvolvimento e, portanto, melhorar a sua qualidade de vida e a forma como ela lida com o ambiente e as pessoas ao seu redor.
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