Ensinar crianças com autismo a ler é um desafio e tanto. Seja você pai, professor ou terapeuta. Ainda bem que existem profissionais brilhantes que realizam muitas pesquisas e desenvolvem ferramentas que nos possibilitam ajudar nossas crianças no aprendizado.
O mais interessante disso tudo é que essa pesquisa foi realizada aqui no Brasil. E, graças a ela, hoje nós vamos aprender como ensinar crianças com autismo a ler. Ficou curioso? Então, leia tudo com bastante atenção:
Pesquisa brasileira que ajuda a ensinar crianças com autismo a ler
Se você me acompanha, deve saber que recentemente fui aprovada no Mestrado na UNB. Justamente para pesquisar sobre este tema e fui para esta linha de pesquisa no Mestrado em Ciências do Comportamento.
Há um grupo de pesquisa sobre este tema na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) e UNB (Universidade de Brasília) que desenvolveu um Programa de Ensino de Leitura e Escrita que se chama ALEPP (Aprendendo a Ler em Pequenos Passos) e posteriormente criaram um meio eletrônico de se aplicar o ALEPP, que foi o GEIC (Gerenciador de Ensino Individualizado por Computador).
E como isso pode ajudar você pai, mãe, terapeuta ou professor? Bom toda essa galera brilhante pesquisou arduamente em condições nada favoráveis, pois nosso país infelizmente não valoriza a pesquisa, o que é relevante ou não em termos de ambiente de aprendizagem, de procedimentos de ensino sob a ótica da análise do comportamento aplicada à eficácia do Programa ALEPP.
Como funciona o programa?
Ele foi elaborado com base em teorias, princípios, procedimentos e estudos da Análise do Comportamento Aplicada.
Por sua vez, a ABA é a ciência que buscar estudar e melhorar comportamento humano socialmente relevante.
Ou seja, é a ciência que estuda como podemos arranjar o ambiente para que ele seja favorável ao desenvolvimento de comportamentos que queremos ver mais e favorável à redução de comportamentos que queremos ver menos.
Entendendo melhor o ALEPP
O ALEPP teve suas bases na Teoria da Equivalência dos Estímulos, um estudo de um cara que se chama Sidman de 1971 um breve relato aqui tirado do texto da Prof. Martha Hubner (USP):
No experimento de 1971, o objetivo de Sidman parecia simples (como o de todo bom pesquisador) e “despretensioso”: era o de verificar se pareamentos condicionais auditivos-visuais (entre palavras ditas ao sujeito e palavras impressas) seriam relações condicionais suficientes para fazer emergir a leitura com compreensão (que envolvia o pareamento entre uma figura e a palavra impressa a ela correspondente) e a leitura oral, mesmo sem treino explícito.
Além desse objetivo, com clara relevância social e objeto de estudo complexo, Sidman considerava que ainda não havia, na época, um estudo experimental da aquisição de leitura e identificação dos pré-requisitos necessários. Seu participante (na época falava-se em experimental) era um rapaz de 17 anos, com retardo mental severo.
No modelo de discriminação condicional, este rapaz já apresentava as relações condicionais de pareamento entre um nome de figura dito a ele e a figura correspondente (pareamento codificado como AB); também apresentava outra relação condicional: diante de uma figura, dizia o seu nome (pareamento codificado com DB). Sidman apresentava os estímulos da seguinte maneira: os estímulos-modelo, quando visuais, eram projetados num painel com nove janelas translúcidas e uma posição central; os estímulos de escolha eram apresentados em posições laterais; quando eram auditivos, os estímulos eram apresentados por meio de um gravador.
Considerando seu objetivo, Sidman (1971) ensinou, por meio de reforçamento diferencial, no arranjo experimental de “matching-tosample”, 20 palavras, no pareamento auditivo-visual (palavra falada ao sujeito e palavra impressa) e testou a emergência do pareamento entre a palavra impressa e a figura (figura esta que o sujeito já identificava diante do nome oral dito a ele). Esquematizando, temos:
Mas algumas dessas relações são ensinadas e outras emergem sem treino formal.
Procedimento de Exclusão de Dixon para ensinar crianças com autismo a ler
No Procedimento de Exclusão de Dixon de 1977 apresentamos estímulos de comparação conhecidos juntamente com um estímulo novo. Portanto quando um estímulo modelo desconhecido é apresentado, o aluno por exclusão do estímulo conhecido seleciona o estímulo de comparação correto, no caso o desconhecido e aprende relações entre estímulo e o modelo.
Uma premissa importante no procedimento de exclusão é a aprendizagem sem erros a qual o erro não se mostra eficaz para a aprendizagem segundo costuma-se a acreditar dentro da Pedagogia, e existem várias pesquisas na área da Análise do Comportamento que sustentam essa premissa.
Outra coisa que falamos acima, no Procedimento do Sidman, foi sobre procedimento de Escolha com o Modelo, conhecido como Matching to Sample:
PROCEDIMENTO DE MATCHING TO SAMPLE:
- apresentação de um estímulo modelo (estímulo condicional);
- resposta de observação ao estímulo modelo;
- apresentação dos estímulos de comparação
- resposta de escolha a um dos estímulos de comparação. Se a resposta de escolha for ao estímulo previamente determinado como comparação correta (discriminativo ou S+), em função de qual modelo foi apresentado, será reforçada, iniciando-se um intervalo entre tentativas (IET).
Mas algumas dessas relações são ensinadas e outras emergem sem treino formal.
O que vários pesquisadores do Brasil, fizeram foi replicar esse Programa ALEPP em diversas populações. Por exemplo: crianças com histórico de fracasso escolar, crianças com deficiências, atrasos no desenvolvimento. Ou seja, crianças que de alguma forma estão fugindo da linha convencional de aprendizagem ou desenvolvimento. Isso é Análise do Comportamento, fornecendo Tecnologia de Ensino para a Educação.
O artigo de hoje foi extenso. Mas espero que você tenha compreendido melhor sobre como ensinar crianças com autismo a ler. Ficou curioso e quer aprender mais? Então, clique aqui!