O papel da Terapia Ocupacional nos transtornos do neurodesenvolvimento é fundamental, principalmente nos transtornos motores, já que os terapeutas ocupacionais podem contribuir muito para otimizar as atividades realizadas diariamente pelos indivíduos e melhorar, assim, suas qualidades de vida.
Se um paciente tiver dificuldade para realizar suas tarefas diárias, desde o momento em que ele acorda, alimenta-se e interage com outras pessoas, caberá ao terapeuta ocupacional intervir para habilitar ou reabilitar esse indivíduo, de forma que ele consiga realizar suas atividades, objetivando sempre a sua autonomia e independência.
Importância da avaliação individualizada
Os transtornos motores do neurodesenvolvimento podem afetar muito a realização das atividades diárias de um indivíduo. Quando há uma defasagem no desenvolvimento motor, e ela não é tratada, isso pode trazer grandes prejuízos e interferir negativamente na qualidade de vida do paciente.
Para escolher a melhor forma de tratamento, é necessário avaliar cada caso de forma individualizada. O tratamento utilizado para um adulto ou idoso, por exemplo, não será o mesmo utilizado para uma criança ou um adolescente.
É preciso ter conhecimento sólido para traçar uma estratégia eficaz, afinal somente é possível intervir de maneira adequada se uma boa avaliação for realizada.
Por exemplo, no caso de um aluno que apresente uma tendência de cair e tropeçar com mais facilidade, será necessário verificar como o professor lidará com essa situação, quando ele estiver na escola.
Em casos como esse, será importante que haja o apoio de outros profissionais, principalmente do terapeuta ocupacional, para garantir que esse aluno consiga, dentro das suas possibilidades, desempenhar as atividades no ambiente escolar da melhor maneira possível.
Critérios diagnósticos dos transtornos motores do neurodesenvolvimento
Para cada transtorno motor do neurodesenvolvimento, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) apresenta critérios diagnósticos, sendo que normalmente quatro ou cinco critérios precisam ser cumpridos, dentro de uma hierarquia, para que um diagnóstico seja fechado.
Dentre os transtornos motores do neurodesenvolvimento, estão: Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação, Transtornos do Movimento Estereotipado e os Transtornos de Tique, que envolvem a Síndrome de Tourette.
Nos casos em que não é possível, em um primeiro momento, elencar todos os critérios diagnósticos, o transtorno é enquadrado na categoria dos Transtornos Não Especificados.
Esses critérios são trazidos pelo DSM-5 de maneira bem clara, simples e fácil de entender, sendo possível compreender como essas dificuldades interferem nas atividades diárias, que é a área de atuação da Terapia Ocupacional.
Muitos critérios levam em consideração a dificuldade ou alteração no desempenho ocupacional do paciente.
Se um transtorno não causar nenhum tipo de dificuldade no desempenho ocupacional do paciente, ele não entrará nem mesmo nos critérios do DSM-5, porque não interferirá na vida do indivíduo.
A maioria dos Transtornos de Desenvolvimento da Coordenação podem estar relacionados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). E muitos indivíduos diagnosticados com o Transtorno de Tique acabam desenvolvendo também o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
Papéis da Terapia Ocupacional nos transtornos do neurodesenvolvimento
Em relação aos papéis da Terapia Ocupacional nos transtornos do neurodesenvolvimento, o terapeuta ocupacional poderá fornecer diagnósticos e emitir relatórios ou laudos sobre os transtornos do neurodesenvolvimento identificados, que serão trabalhados junto com os outros profissionais.
No DSM-5, muitos dos critérios diagnósticos estão relacionados ao desempenho ocupacional, analisando a função (abrir e fechar as mãos, por exemplo) e a funcionalidade (vestir uma camiseta, por exemplo).
Às vezes, não existe uma alteração muscular, mas o paciente não consegue desempenhar aquela função. Isso significa que seu desempenho ocupacional está prejudicado, que as estruturas e funções do corpo estão preservadas, mas ele não consegue apresentar um desempenho satisfatório.
Na Síndrome de Tourette, por exemplo, o paciente emite sons e tiques, alguns mais intensos do que outros, como se morder, bater a cabeça na parede e/ou repetir o que outra pessoa estiver dizendo.
Esses comportamentos afetam muito a autoestima do indivíduo, que poderá sofrer bullying e ter muita dificuldade para lidar com seus pares, já que muitos deles não terão paciência e entendimento sobre a dificuldade desse aluno.
Um dos papéis do terapeuta ocupacional será mediar a interação entre esse aluno e seus pares, explicando para os outros que nem sempre ele conseguirá fazer o que foi proposto na brincadeira ou realizar a atividade pedagógica.
Quando se trata de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, o trabalho do terapeuta ocupacional será focado em dois pontos específicos: a habilidades de brincar, que está relacionado com o desenvolvimento social do aluno, e o desempenho escolar (segurar o lápis, escrever, desenhar etc.).
Além do diagnóstico, é preciso que seja elaborado um plano para trabalhar e estimular a melhor funcionalidade possível do paciente. Afinal, somente ter a função, sem a funcionalidade, poderá trazer a autonomia de escolhas, mas não a independência para as desempenhar.
É importante citar também que os prejuízos motores nem sempre são transtornos. Às vezes, eles ocorrem por traumas ou mesmo pela utilização de substâncias tóxicas. Nesses casos, o terapeuta ocupacional também poderá avaliar a situação e desenvolver um plano de intervenção.
De acordo com o DSM-5, para uma alteração ser diagnosticada como transtorno do neurodesenvolvimento, ela não poderá estar relacionada com o uso de substâncias, sejam medicamentos ou drogas ilícitas.
É preciso ter muito cuidado com isso, porque algumas medicações causam alterações motoras. E também é preciso avaliar se nenhuma outra patologia está gerando aquele tipo de atraso no desenvolvimento.
Por exemplo, se um paciente possuir um diagnóstico fechado de Paralisia Cerebral, ele não irá receber um diagnóstico de Transtorno de Desenvolvimento da Coordenação. São critérios bastante específicos e que devem ser observados com atenção para que o diagnóstico não seja mascarado por outras questões.
O diagnóstico tem um papel muito importante para garantir que a conduta terapêutica do terapeuta ocupacional e dos demais profissionais envolvidos seja a melhor possível, tanto para o paciente como para seus familiares.
A intervenção de transtornos do neurodesenvolvimento, de forma geral, é um processo longo e que exige disponibilidade e colaboração de ambas as partes, tanto do paciente e seus familiares como dos profissionais.
E o bem-estar da família também é um elemento essencial para o contínuo desenvolvimento do indivíduo, cabendo ao terapeuta ocupacional estar atento a isso, procurando sempre manter os familiares informados e incentivando-os a participar ativamente do processo de diagnóstico e intervenção do transtorno em questão.
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