Embora ainda haja muito que não saibamos sobre o cérebro, pesquisas recentes sugerem que diferenças funcionais e fisiológicas muito específicas no cérebro de crianças com autismo podem ser responsáveis por comportamentos que antes eram envoltos em mistério.
Você já se sentiu perplexo com as reações excessivamente intensas de seu filho a coisas que o seu outro filho ou outra filha dificilmente percebem? Ou talvez você ache que o seu filho não tem praticamente nenhuma reação às coisas que causariam excitação e curiosidade em outra criança?
Por mais diferentes que sejam essas respostas, elas são igualmente surpreendentes para os pais de primeira viagem.
Há algo sobre a compreensão do histórico de comportamentos problemáticos que às vezes podem ajudar a aliviar parte da frustração.
Mesmo que você não seja capaz de mudar imediatamente a situação, pode haver consolo na compreensão. Especialmente quando você sabe que o problema está mais enraizado na fisiologia e na mecânica do que na psicologia.
Como seria se alguém com autismo pudesse explicar o que está acontecendo dentro do seu cérebro
1. Meu cérebro não muda de regiões como o seu
Você já percebeu que pode ser difícil para eu reconhecer a emoção em um rosto ou em uma voz?
Para analisar o rosto de um amigo e então compreender se ele está feliz ou com raiva, eu preciso de informações visuais e emocionais. Em cérebros neurotípicos, áreas na região da frente e atrás entram, naturalmente e instantaneamente, em sincronia para tornar isso possível.
Para mim, no entanto, não é tão simples. Meu cérebro ativa uma única região e depois se esforça para transferir informações para outras regiões.
É, também, por isso que posso ter dificuldades com os pronomes pessoais… Referindo-me a mim mesmo como “você” em vez de “eu”. Não é apenas um problema de escolha de palavras…
O conceito do eu requer que duas áreas do meu cérebro sejam coordenadas de maneira suave e rápida. Adiciona o componente da fala e também envolve a ativação simultânea do lobo frontal esquerdo, a parte do cérebro responsável pela fala.
2. Quando eu tento desviar a minha atenção, o meu cérebro inteiro liga
Às vezes, parece que eu estou um pouco atrasado na conversa ou na resposta a uma situação?
Isso acontece porque quando o meu cérebro tenta alternar tarefas (por exemplo, eu estava lendo um livro e você me pediu para dizer “Oi” para uma visita), ele supercompensa.
O meu cérebro esforça-se para transferir informações e, em vez de simplesmente se comunicar entre duas ou três regiões específicas, ele ativa-se por completo, ligando tudo de uma só vez.
Leva pelo menos 8-9 segundos para que a atividade se acalme e eu possa processar o que você acabou de me pedir.
Os cientistas acham que isso pode acontecer devido ao fato de eu ter muitos neurônios no meu cérebro… Especificamente, os tipos de neurônios chamados de “excitatórios”.
Quando a relação entre esses neurônios e as suas contrapartidas – os neurônios inibitórios – está fraca, a pessoa tende a se tornar mais hiperativa. Possivelmente porque o seu cérebro continua ligando com força total e luta para integrar toda a informação.
Quando finalmente eu posso desativar toda essa atividade, já perdi parte do fluxo de informações.
Todos nós já passamos por alguma situação que se compara a esse sentimento. Pense em um momento em que você entrou em uma sala onde alguns amigos estavam no meio da conversa e tentou se integrar ao que ou sobre quem eles poderiam estar falando.
3. Meu cérebro fala demais consigo mesmo
Você percebeu que às vezes eu não consigo me concentrar no que você está me dizendo?
O cérebro de crianças com autismo são bem barulhentos! Mesmo quando estou apenas sentado e fazendo o meu dever de casa, sem o drama de trocar de tarefas, posso ficar muito estimulado.
Ocorre dessa forma: o seu cérebro suavemente filtra informações sem importância – os carros zunindo lá fora, a camisa clara da pessoa com quem você está falando, o cheiro da lasanha do vizinho – para que você possa manter uma conversa ou lembrar-se de todos os passos que envolvem a execução de uma tarefa que você faz todos os dias.
Meu cérebro, por outro lado, não tem o mesmo tipo de mecanismo de filtragem e tudo acontece de uma vez, desordenando a minha mente consciente e desviando a minha atenção.
É como se você conseguisse reduzir os sons de todas as outras coisas e aumentar o som daquilo que você deseja focar. Então, se algo mais parecer importante, você pode alternar e aumentar um pouco o som desse outro, antes de retornar ao anterior.
Para mim, toda essa informação está tocando em um volume alto, de uma só vez.
Por que o cérebro de crianças com autismo funciona assim?
Como já foi dito, eu tenho muitos neurônios.
Bem, muitos desses neurônios têm sinapses conectando-se a outros neurônios. As sinapses são essencialmente os pontos de contato que os neurônios usam para falar uns com os outros… E, com tantos, há muita tagarelice acontecendo para lá e para cá.
É por isso que às vezes preciso ficar sozinho em um espaço silencioso para fazer as coisas. Ou, eu posso escolher certas músicas para tocar nos meus fones de ouvido repetidamente para abafar outros estímulos.
4. Quando eu fico muito sobrecarregado, o meu cérebro desliga
Às vezes, parece que eu repentinamente me desligo?
Isso acontece porque chega um momento em que eu sou bombardeado por muita informação ou caso eu me sinta sobrecarregado por tentar realizar uma tarefa muito difícil, o meu cérebro pode realmente entrar no modo desligado.
Pense nisso da seguinte maneira: às vezes você executa muitos programas no computador, de uma só vez, e ele trava. Ele permanece travado e você simplesmente não consegue mais utilizá-lo.
Você poderá reiniciar o computador e o problema será resolvido, mas, com o meu cérebro, a situação é mais complicada. Uma mulher com autismo compartilhou a sua experiência com o desligamento da seguinte maneira:
Relato:
“Em um minuto, eu estava fora de controle, batendo no rosto, como acontece, e no minuto seguinte, eu estava no chão, incapaz de me mover. Eu comecei a ter a visão limitada. Minha audição começou a ficar confusa. Minha visão fechou-se cada vez mais como se desligasse uma velha televisão de tubo, diminuindo fechando-se para um minúsculo ponto de luz que se apagou, assim como a minha audição se desligou completamente, deixando-me sozinha na escuridão terrivelmente entorpecente.”
A teoria atual afirma que uma parte do meu cérebro torna-se hiper-reativa quando repetidamente exposta aos hormônios do estresse. Enquanto outras partes tornam-se prejudicadas, iniciando o efeito dominó de um desligamento.
Embora seja verdade que às vezes posso simplesmente me afastar e me esconder por trás de um comportamento evasivo, um desligamento é algo fisiológico sobre o qual eu não tenho controle.
A melhor atitude que você deve tomar é me retirar da atual situação estressante e dar um tempo para eu descansar, para que os hormônios do meu corpo possam se regular e o meu cérebro voltar aos trilhos.
Conclusão
Entender como funciona o cérebro de crianças com autismo é muito importante. Há tantos preconceitos justamente por falta de conhecimento sobre o assunto.
Hoje, o cérebro de crianças com autismo não é mais um mistério tão grande quanto era algumas décadas atrás. E há muita produção científica que pode nos ajudar a entender melhor essas crianças.
Aqui no IEAC estamos sempre compartilhando conteúdos atualizados, baseados em pesquisas científicas. Você pode continuar acessando o site e lendo outros artigos relevantes sobre autismo, desenvolvimento atípico e etc.
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