Quando estudamos sobre o ensino de habilidades para autistas, é importante conhecer as práticas de ensino que são baseadas em evidência científica.
Neste artigo, falamos sobre essas práticas e trazemos algumas definições que fazem parte do vocabulário científico, bem como uma pesquisa que foi realizada pelo Centro Nacional de Autismo em 2009.
Os profissionais que atuam com o autismo precisam aplicar estratégias de ensino para pessoas com autismo que sejam efetivas, revisadas por pares e publicadas em periódicos científicos.
É importante saber também que um livro é diferente de um periódico científico. Qualquer pessoa pode escrever um livro. Um livro autopublicado descreve uma abordagem ou estratégia por escrito, ou pode ser um compartilhamento de seus casos. Mas isso não é considerado uma evidência científica.
O que é a Prática Baseada em Evidência Científica?
De acordo com a Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição (ASHA), a Prática Baseada em Evidência Científica é uma abordagem que faz uso da pesquisa atual de alta qualidade, integrada com a expertise clínica e as preferências do cliente, no processo de tomada de decisões.
Quando falamos em escolher uma determinada abordagem ou um determinado caminho na intervenção de autistas, é preciso que pesquisas prévias tenham investigado exatamente o que queremos saber.
O tipo de população testada é fundamental para a decisão do que se aplica melhor ao seu caso real.
Outro ponto importante é que, ao ler determinado estudo, o que de fato foi feito precisa ser escrito com tal clareza que possa ser replicado. Uma boa pesquisa é aquela que possa ser feita por outras pessoas e testada, pois assim o conhecimento pode ser de fato colocado à prova e sua eficácia pode ser testada.
Hierarquia da Qualidade de Estudos
Os designs de pesquisa com grupos randomizados e que comparem a condição de tratamento com a condição de placebo são considerados o padrão-ouro de pesquisa (WONG et al., 2015).
Pesquisas experimentais ou quase experimentais são consideradas evidência científica se dois ou mais estudos de alta qualidade replicaram aqueles dados. Se forem estudos de qualidade aceitável, serão necessários quatro estudos.
De acordo com Gersten et al. (2005), os fatores de qualidade de uma pesquisa são:
- seleção dos participantes;
- implementação da intervenção;
- forma de medidas dos resultados;
- análise de dados.
No caso das pesquisas com Delineamento de Sujeito Único, que são aquelas que comparam o sujeito com ele mesmo, há a necessidade de cinco ou mais estudos publicados em periódicos científicos com a clara descrição dos participantes.
A descrição dos participantes deve deixar bem claro quais são as Variáveis Independentes, que apresentem uma demonstração funcional da relação com a Variável Dependente.
A Variável Independente corresponde ao que está sendo manipulado, é a condição experimental, é o que está sendo testado para saber se funciona ou não. Será necessário definir operacionalmente a sua Variável Dependente, o que você irá medir, o que será ou não afetado pela sua variável independente.
Será necessária também a Medida de Acordo entre Observadores, para saber se duas pessoas diferentes verão o que está sendo medido da mesma maneira.
A Demonstração de Validade Social também será necessária. A validade social refere-se ao significado social dos objetivos de intervenção, à aceitabilidade social dos procedimentos de intervenção e importância social dos efeitos (KAZDIN, 1977; WOLF, 1978).
Além disso, dentro do Delineamento de Sujeito Único, é necessário ter a Fidelidade do Tratamento, para analisar se a estratégia foi implementada de forma correta, da maneira como foi previamente elaborada.
Vocabulário da Ciência
Estudo Duplo-cego: os participantes do estudo e a pessoa que conduz o estudo não sabem o tratamento que estão recebendo/aplicando.
Estudo de Caso: é um projeto específico de pesquisa em que as experiências ou os progressos de uma única pessoa são descritos em detalhes.
Conflito de Interesse: um pesquisador obtém vantagem (fama ou dinheiro) se os resultados de determinado estudo forem positivos.
Controle das Variáveis: é importante manter constantes determinadas características das pessoas estudadas, para garantir que as diferenças observadas se devem aos tratamentos e não às diferenças entre os indivíduos.
Grupo Controle: grupo que participa da pesquisa, mas que não recebe tratamento.
Estudo Cruzado ou Crossover: envolve diferentes grupos de indivíduos que recebem tratamentos diversos em diferentes momentos e ordens. Por exemplo, alergia a alimentos.
Grupo Homogêneo: aquele em que as características de todos os membros são muito semelhantes. Por exemplo, mesma idade, mesmo gênero, mesma etnia.
Meta-análise: é uma revisão matemática sistemática da literatura das pesquisas que utiliza os dados reais (ou números) coletados por muitos outros pesquisadores para a condução de uma análise estatística mais abrangente. Ela só poderá ser conduzida se suficientes dados estatísticos forem coletados em uma abordagem de tratamento específica. Isso já é um indicativo de que uma intervenção foi razoavelmente bem pesquisada.
Placebo: uma substância ou um procedimento que não tem efeito terapêutico conhecido. Por exemplo, receber um remédio de comprimido feito de açúcar.
Randomização: é uma técnica específica de pesquisa em que cada participante tem chances iguais de ser atribuído a um grupo, de forma aleatória.
Revisão Sistemática: ocorre quando um investigador conduz um processo extenso e trabalhoso de descoberta e análise de todos os trabalhos e pesquisas realizados por outros pesquisadores. Essa investigação irá obedecer a determinados critérios estabelecidos pelo autor da revisão.
Amostra: é o grupo de pessoas sob estudo, os participantes.
Padrão-ouro: experimento Duplo Cego, Randomizado e controlado. Grandes desafios à pesquisa ocorrem por questões éticas com a pesquisa com seres humanos. Às vezes, um grande número de estudos que não se encaixa no padrão-ouro, quando são considerados coletivamente, trazem uma contribuição significativa para a ciência.
Pesquisa do Centro Nacional de Autismo de 2009
O Centro Nacional de Autismo coordenou um projeto de revisão de pesquisa entre 1957 e 2007, chamado de Projeto Nacional Modelo, para identificar práticas baseadas em evidência científica para o autismo.
Foi realizada uma classificação de quatro categorias para as Intervenções: 1- Estabelecidas, 2- Emergentes, 3- Não Estabelecidas e 4- Não Efetivas/Perigosas.
A seguir, estão as intervenções que foram consideradas “Estabelecidas” com as quantidades de estudos voltados para autistas que foram realizados em cada uma delas:
- Intervenções Comportamentais (453 estudos);
- Pacote de Intervenção Cognitivo Comportamental (13 estudos);
- Intervenção Comportamental Abrangente (41 estudos);
- Treino de Linguagem em Crianças Pequenas (12 estudos);
- Modelação (79 estudos);
- Estratégias de Ensino Naturalistas (30 estudos);
- Pacote de Treino de Pais (48 estudos);
- Pacote de Treino por Pares (46 estudos);
- Treino de Respostas Pivotais – PRT (17 estudos);
- Rotinas (13 estudos);
- Scripting (11 estudos);
- Autogerenciamento (31 estudos);
- Pacote de Habilidades Sociais (35 estudos);
- Intervenção Baseada em História (36 estudos);
- Para Adultos com Mais de 22 Anos – Intervenção Comportamental (17 estudos).
É muito importante ter conhecimento das informações apresentadas neste artigo para saber avaliar por que uma prática é considerada com maior ou menor evidência científica do que outra, quando estudamos as intervenções voltadas para o tratamento do autismo.
Se a sua intenção é atuar com pessoas autistas você precisa compreender sobre a intervenção baseada na Ciência do Comportamento (mais especificamente o seu braço de atuação a Análise do Comportamento Aplicada).
Ter no seu dia á dia procedimentos que são baseados em evidência científica é obrigatório para uma prática ética e efetiva, que traga resultados mensuráveis e visíveis para aqueles que necessitam de seus serviços.
E é por isso que quero estar ao seu lado neste processo de formação com a Pós Graduação em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e te tornar um Analista do Comportamento/Terapeuta ABA somando assim á sua área de atuação existente a melhor evidência científica existente no ensino de habilidades no Autismo e outros Transtornos do NeuroDesenvolvimento.