Como psicopedagoga, acredito que seja necessário esclarecer algumas questão relacionadas às avaliações da psicopedagogia.
O que é a psicopedagogia?
Bom vamos lá a Avaliação Psicopedagógica é, segundo Bianca Acampora no livro “Psicopedagogia Clínica, o despertar das potencialidades” como:
“A investigação do processo de aprendizagem do indivíduo, visando entender a origem da dificuldade e/ou distúrbio apresentado. Inclui Entrevista Contratual com os pais ou responsáveis pela criança e /ou pelo adolescente, análise do material escolar, aplicação de diferentes modalidades de atividades e uso de testes para a avaliação do desenvolvimento, áreas de competência e dificuldades apresentadas, anamnese, visita a escola (se for o caso) e devolução”.
As sessões do psicopedagogo
O trabalho de cada psicopedagogo pode ser diferenciado, mas em essência funciona dessa forma:
1ª Sessão: Entrevista Contratual: O profissional irá te explicar como ele trabalha, valores, tempo de sessão, horários, questões práticas.
2ª Sessão: Entrevista Familiar Exploratória (EFES) é uma entrevista realizada com a família e a criança, para que seja definida a queixa familiar com relação a aprendizagem e o que a família espera com relação ao atendimento. A criança ou adolescente irá expor sua dificuldade.
Mas, já pensou uma criança autista em uma destas sessões? Como ele vai expor? Ele irá chorar a sessão toda, por estranhar o consultório ou não vai parar quieto. Mesmo uma criança típica não tem vínculo nenhum com o profissional, será que vai rolar essa troca de falar a dúvida da criança?
3ª Sessão: Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA): O psicopedagogo deixa os seguintes materiais a disposição do aluno: papel A4, papel pautado, cola, tesoura, papel colorido, lápis novo sem ponta, apontador, borracha, régua, livros, revistas. E dará as seguintes demandas:
- “Gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer”
- “Gostaria que você me mostrasse o que o ensinaram e o que você aprendeu
- Este material é para você usar se precisar para me mostrar o que lhe falei que queria saber de você”
- “Você já me mostrou como se lê e desenha: agora eu gostaria que você me mostrasse outra coisa”
- Você pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de Matemática ou qualquer outra coisa que lhe venha na cabeça”
Vou parar nestas sessões…
Por que as avaliações da psicopedagogia não servem para os autistas?
O psicopedagogo irá observar como o aluno irá fazer uso do material, como irá manusear e o que irá fazer.
Entretanto, se eu tenho uma criança com atraso de linguagem que não tem uma boa linguagem receptiva (repertório de ouvinte) ele não irá entender nada o que eu estou pedindo. Mas, se essa criança não segue instruções como ela irá fazer esse tanto de coisas?
É exatamente assim que são as crianças autistas. Por isso essa avaliação não se encaixa no perfil de crianças autistas.
Além disso, tem as provas operatórias, que possuem perguntas, indagações que exigem que a nossa criança nós dê respostas verbais vocais (ou seja, que ela fale). E aí como fazemos se muitas das nossas crianças não falam ou tem uma fala reduzida?
Dentro do quadro do TEA já sabemos o que é típico: o atraso na linguagem, na interação social e dificuldades de aprendizagem.
O que fazer?
Ao contrário das avaliações da psicopedagogia, ABA (Análise do Comportamento Aplicada) tem protocolos de avaliação que se encaixam para as crianças autistas, com atraso de linguagem. Através desses protocolos, é possível avaliar as habilidades das crianças. Inclusive, muitos pais (como eu!) utilizam essa ferramenta.
Um psicopedagogo não pode resolver as demandas escolares do seu filho autista. Mas, muitos psicopedagogos estão percebendo isso e buscando se profissionalizar na área da ABA. Inclusive, aqui no IEAC temos cursos de ABA direcionados para quem é psicopedagogo.
Mas, se você é responsável por uma criança autista, você também pode fazer cursos sobre avaliações, protocolos e ferramentas da ABA, que auxilia no desenvolvimento da criança.