Como Ensinar Habilidades de Comunicação e Linguagem para Pacientes com Autismo?

Receba nossos conteúdos exclusivos

Intervenção baseada em Evidência Científica

Sumário

O que é comunicação e linguagem?

Para falarmos sobre o ensino de comunicação para autismo, primeiramente precisamos entender o que é comunicação e linguagem.

A comunicação corresponde a uma ação ou um efeito de comunicar, de transmitir ou de receber ideias, conhecimentos, mensagens, buscando compartilhar informações.

Está relacionada com a habilidade de estabelecer um diálogo e participar de uma conversa.

É importante citar que a comunicação pode ser realizada de diferentes maneiras, e não somente por meio da fala. Podemos nos comunicar com as outras pessoas também por meio de ações não verbais, como gestos, olhares, choro, figuras…

Já a linguagem é uma habilidade complexa, que se desenvolve com o objetivo principal de permitir a comunicação, ou seja, transmitir e receber pensamentos, ensinamentos, aprendizados, desejos, sentimentos etc.

Ainda que a fala seja a forma de comunicação mais utilizada pela maioria de nós, ela não é a única. Algumas formas de comunicação alternativa são: a Língua de Sinais, o Método de Alfabetização Boquinhas, o uso de figuras, dentre outras.

É normal que os familiares de crianças autistas desejem que eles desenvolvam a fala e consigam comunicar-se por meio dela. Mas o objetivo principal deve ser que o indivíduo consiga estabelecer uma comunicação, pois não adiantará ele falar se o que ele disser não fizer sentido.

Como saber se é autismo ou apenas um atraso na fala?

Muitas vezes, a criança apresenta apenas um atraso na fala, e não um transtorno do neurodesenvolvimento, como o autismo.

Por esse motivo, conhecer os marcos de desenvolvimento infantil é fundamental nesse processo, para saber o que é esperado que o indivíduo faça em cada idade e para elaborar objetivos de ensino que sejam adequados para aquela faixa etária.

Se os pais e/ou as pessoas que mais convivem com o paciente notarem que ele não fala como o esperado, o melhor a fazer é buscar orientação profissional para que o especialista possa avaliar se é apenas um atraso na fala ou se há algum transtorno do neurodesenvolvimento envolvido nesse atraso, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Receber crianças no consultório com essa condição, principalmente se você não for um fonoaudiólogo especialista no atendimento de transtornos do neurodesenvolvimento, poderá ser um desafio.

Contudo, o mais importante, nesse primeiro momento, será identificar se o paciente realmente apresenta um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, a prioridade deverá estar na realização do diagnóstico desse transtorno o quanto antes. E não necessariamente encaminhar o paciente para um fonoaudiólogo. Para saber mais sobre isso, venha para a Pós-graduação em Transtornos do Neurodesenvolvimento – Do Diagnóstico à Intervenção (link da pós).

Dessa forma, assim que o transtorno for identificado, ou pelo os sinais mais evidentes de um possível transtorno, a intervenção deverá ser iniciada, com o objetivo de minimizar os comportamentos inadequados e ensinar ao paciente novos comportamentos que sejam significativos para que ele possa levar uma vida mais saudável e independente em relação às pessoas que o cercam.

Importância da intervenção precoce

Durante os 2 e 3 anos de idade, o cérebro do indivíduo ainda está se formando, o que significa que ele é mais maleável do que nas idades mais avançadas. Isso explica por que os tratamentos têm uma chance maior de serem eficazes nessa fase da vida.

Com a intervenção precoce, é possível aproveitar o potencial de aprendizagem que o cérebro infantil tem para limitar os efeitos prejudiciais do autismo e ajudar os pacientes a terem uma vida melhor.

Quanto mais cedo um indivíduo receber ajuda, maiores serão as chances dele aprender e progredir, bem como de explorar todo seu potencial.

As diretrizes recentes sugerem o início de uma intervenção integrada de desenvolvimento e comportamento assim que o autismo for diagnosticado ou for seriamente suspeito.

Papel da Fonoaudiologia e de outras áreas no ensino de comunicação para autismo

A Fonoaudiologia é uma especialidade que tem um importante papel no tratamento do autismo e dos pacientes que apresentam dificuldade para desenvolver as habilidades de comunicação e linguagem.

Essas habilidades são pré-requisitos para o desenvolvimento de outras habilidades, portanto ensinar o paciente a pedir o que ele quer e expressar o que ele sente, seja por meio da fala ou de outra forma de comunicação alternativa, será fundamental para que ele esteja em constante desenvolvimento.

Contudo, como nem sempre a família do paciente consegue contar com a presença de um fonoaudiólogo no programa de intervenção, seja por motivos financeiros ou outros, é importante ficar claro que os outros profissionais que atuam com o indivíduo também poderão trabalhar no desenvolvimento das habilidades de comunicação e linguagem.

Como desenvolver habilidades de comunicação e linguagem no autismo?

Um plano de ensino de habilidades de comunicação e linguagem eficiente deve ser realizado seguindo cinco etapas: avaliação, objetivos de ensino, programas de ensino, coleta de dados e treinamento de pais.

A seguir, são apresentadas informações sobre cada uma das etapas do ensino de comunicação para autismo.

Avaliação

Não é possível ensinar comunicação e linguagem para autistas sem o primeiro passo, que é a avaliação. Quando falamos em avaliação, é normal as pessoas acharem que estamos nos referindo à avaliação diagnóstica, mas não é isso.

Mesmo com o diagnóstico de autismo, é possível que o paciente apresente outras comorbidades, mas a avaliação que mais importa para iniciar o planejamento da intervenção é o levantamento do repertório comportamental.

Essa é a avaliação mais importante, pois é necessário conhecer as habilidades que o indivíduo já possui e aquelas que ele ainda precisará aprender.

Essas informações serão importantes para elaborar a intervenção sem colocar uma tarefa que seja difícil demais ou fácil demais para o autista realizar, pois ambas podem desencadear problemas de comportamento.

A avaliação vai responder quais habilidades serão o foco da intervenção e com qual nível de ensino de habilidades deverá ser iniciada a intervenção. Um processo de avaliação bem feito também irá mostrar as barreiras comportamentais que podem estar impedindo a aquisição dessas habilidades.

É necessário identificar as estratégias específicas que serão mais efetivas para o paciente e a forma de comunicação que será utilizada.

Para identificar quais habilidades precisarão ser avaliadas, será necessário saber qual é o nível de cooperação do paciente e o nível de efetividade dos reforçadores.

Além disso, será necessário analisar se ele possui as habilidades de fazer pedidos, nomear, ouvinte, percepção visual, brincar, socialização, imitação, ecoico, comportamento vocal, intraverbal (responder perguntas, fazer comentários), acadêmicas, bem como saber como ele faz para ter suas necessidades atendidas.

As habilidades de independência e autonomia do paciente também precisarão ser avaliadas, para verificar se ele consegue usar o banheiro sozinho, tomar banho, escovar os dentes, arrumar a cama, dentre outras habilidades do dia a dia.

Objetivos de Ensino

Depois de realizada a avaliação, o próximo passo será a escrita dos objetivos de ensino. É necessário saber o que será ensinado de maneira descritiva e mensurável, ou seja, de forma que qualquer pessoa que leia consiga entender.

Para escrever os objetivos de ensino, será necessário levar em consideração o que é relevante para a família e também pensar do ponto de vista do desenvolvimento infantil.

Programas de Ensino

O passo seguinte consiste em saber como atingir os objetivos de ensino, o que será feito por meio da escrita dos programas de ensino.

Nesse momento, deverá ser definido quais metodologias e procedimentos serão utilizados para ensinar linguagem e comunicação para autistas, quem irá aplicar o programa de ensino, quais materiais serão utilizados e quais serão os critérios de aprendizagem.

Tudo isso deverá ser feito de maneira detalhada.

Coleta de Dados

O próximo passo será saber se tudo o que está sendo feito está dando certo. Para isso, deverá ser usada a coleta de dados.

Uma das formas de coletar dados é por meio das fichas de registro. Com a análise dos dados, podemos verificar o progresso do paciente e identificar se alguma alteração precisará ser feita no curso da intervenção.

Treinamento de Pais

O treinamento de pais também é um passo importante desse processo. Deve estar claro que treinamento não é orientação, nem feedback.

Os familiares têm um papel fundamental no ensino das habilidades de linguagem e comunicação, já que os comportamentos trabalhados pelos profissionais com os pacientes autistas deverão ser realizados também no ambiente doméstico para garantir a eles um ensino intensivo.

O atraso no desenvolvimento das habilidades de comunicação e linguagem pode desencadear sérios problemas de comportamento nos autistas, bem como interferir negativamente na qualidade de vida e na independência e autonomia dos indivíduos.

Para aprender o passo a passo do ensino de comunicação para autismo, utilizando o Protocolo VB-MAPP e nossos formulários próprios, envolvendo todas as etapas do processo, desde a avaliação até a intervenção, venha para o Manual da Comunicação no Autismo. Clique aqui para obter mais informações.